O sonho continua.

06 de Abril de 2018.

Está foi a data do meu último voo como Comandante de Caravan na Indonésia pela Susi Air.  Foi um dia normal, ou mais próximo do normal que poderia ser na Indonésia. De lá para cá já são 30 dias que estou no Brasil.

O capítulo Susi durou 2 anos e 8 meses. Foram 1400 horas de voo e um aprendizado e uma experiência imensurável, incomparável. Conheci pilotos do mundo inteiro e suas historias, compartilhei experiências e cabine com profissionais das mais distintas escolas do mundo. E com eles desbravei uma grande parte das 17.000 Ilhas da Indonésia. Cruzei este arquipélago sem repetir muitos lugares neste tempo e conheci as incontáveis culturas, línguas e povos desta terra.

Está “viagem” de quase 3 anos, na qual permaneci sem base, casa ou local fixo. Da qual retornei com somente 20 kilos de bagagem fisica, não só marcou minha carreira profissional como também mudou minha personalidade. Me ensinou a voar mas foi muito mais além, também me ensinou sobre muitas culturas, me ensinou a viajar, a me comunicar em várias línguas ou até comunicar sem nenhuma lingua, improvisar, manter a calma, e acima de tudo a aproveitar cada momento, pois de todos esses momentos inesquecíveis poucos se repetiram, foram muitas despedidas e muitos reencontros. Mas também muitas partidas sem despedidas. A única certeza que tínhamos todos os dias é que estávamos vivendo as melhores histórias aeronáuticas e mochileiras das nossas vidas.

Por mais que eu tente, vai ser difícil achar neste mundo lugar mais desafiador e incrível de se voar que a Indonésia. Exatamente por isso eu nem tentei. Partimos agora para uma nova etapa e um novo aprendizado. Um tipo de voo completamente diferente mas que também terá seus desafios. Em alguns dias estarei embarcando para Hong Kong onde começo meu type rating em um Airbus 320. Quem sabe logo teremos o Voando em Hong Kong ou o Voando na Indonésia parte 2. Agente nunca sabe, esse mundo da tantas voltas que eu fui parar de outro lado =)

Até logo.

 

 

 

Upgrade para Comandante.

Desde o primeiro dia de treinamento como co-piloto até o primeiro dia de treinamento como comandante de Caravan foram exatos: 1 ano e 4 meses.

Em novembro deu-se início uma nova fase, depois de voar em inúmeras bases em diferentes ilhas da Indonésia, de passar por dois vôos de avaliação, um dia de testes teóricos, duas seções de simulador na esquerda, comecei o treinamento para comandate.

Composto de mais uma semana de ground school, 4 sessões de IFR com panes no simulador, e 3 voos na aeronave, seguidos por 20 horas de line training voando double captain.

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Amanha dia 31/12/2016 vai ser meu primeiro dia como comandante com um co-piloto. Acho que é uma ótima maneira de terminar o ano.

O último ano foi de muito aprendizado, muitos voos na Papua e muitas viagens.

O período detransição e treinamento está registrado neste vídeo:

E assim começamos 2017, com o pé direito, mas do lado esquerdo. 

Para 2017 já estamos preparando para a chegada dos LET410 que estão prontinhos na fábrica, já com a logo Susi Air. Great times!

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Novo processo seletivo.

Boas notícias do outro lado do mundo.

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Acabei de voltar de férias do Brasil, onde passei maravilhosos 30 dias, e enquanto estou em Pangandaran para recurrency training,  no centro de treinamento e base operacional da Susi Air, fiquei em contato mais próximo com os diretores de treinamento e instrutores.

A primeira boa notícia é que as novas turmas estão aumentando em tamanho (mais pilotos) e também em frequência. Então mais uma vez ressalto, este é o momento para dar aquela “tentiada” novamente com o currículo, ou quem sabe mais um aviso pra você correr e tirar esse ICAO english level agora! As portas aqui agora estão totalmente abertas a Brasileiros. Estamos em um total de 4 pilotos da terrinha, recentemente mais dois foram entrevistados. Isso tudo é consequência principalmente da minha insistência em contar para eles a atual situação econômica do nosso país, o que estimula a empresa a esperar que brasileiros fiquem mais tempo, e queiram desenvolver carreiras no exterior, é claro que a inundação da caixa de e-mail de currículos do Brasil também está ajudando, e confirma a minha versão.

A outra notícia completo com duas fotos abaixo, se você quiser saber mais não deixe de visitar o site da empresa, na seção de carreiras onde além de os mínimos para Co-piloto de Caravan 2016, você vai achar essas outras duas oportunidades de emprego: Co-pilot LET 410, Captain LET 410 and Fast track Captain CARAVAN. Isso mesmo, se deu início um projeto para aumento da frota.

See you soon and happy “endings”!!

2016 Pilot Career – Non-Indonesian

Thank you for your interest in Susi Air.

Susi Air would receive any pilot application all year long but only shortlisted candidates will be followed up and depending on company needs.

Susi Air would conduct interview when the need for pilot arose. Otherwise there will be no interview.

Susi Air adopted regulations from Indonesian Directorate General of Civil Aviation as the basic requirement for employment and added up with other company’s interior requirements.

All pilot applications must be submitted by e-mail to:

recruiting (at) susiair.com no spaces

Applications sent to other addresses will not be followed up.

CATEGORY 3. Non-Indonesian / Non-Indonesian License Holder:

  1. Hold minimum 250 hours on aircraft and preferably above 750 hours. (simulator time not included).
  2. Comprehensive CV. Specify hours flown in the last 6 months and last 12 months.
  3. at least ICAO CPL Single Engine Land and IR (current). FAA mother license is preferable.
  4. Copy of latest examiner’s report/ proficiency check form/ flight review/ flight test, exhibiting the Single Engine and IR rating as per license.
  5. First Class medical (current), no restriction except for corrective glasses.
  6. License verification letter with current information from authority
  7. Free of accident-incident verification report from authority.
  8. Copy of logbook in the last three months with verification stamp or signature from chief pilot or flight instructor.
  9. candidates must be free from any form of color blindness and passed the Ishihara Color Test – Indonesian authority only accept the Ishihara Color Blind Test.
  10. Minimum of level 5 ICAO English proficiency test.
  11. Valid passport minimum 24 months left

Posted: April 28, 2016, 2:04 am

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Line Training.

A minha caminhada foi mais ou menos assim, em Julho a entrevista, em Agosto a ground school, na segunda semana de Setembro eu estava indo para a minha primeira base, terminar o line training.

O treinamento no trabalho, bom primeiro que ao contrário do que muita gente pensa, a Susi Air não voa só para as montanhas da Papua, em pistas de grama, de cascalho, morro acima e abaixo como você deve ter visto no documentário Worst Place to be Pilot. (Logo vai ter post sobre a operação nas montanhas) Como já dito no meu segundo post neste blog, a empresa lucra basicamente ligando grandes aeroportos e lugares remotos, nas diversas ilhas da Indonésia, no casa da Ilha de Papua seria lugar remoto para outro lugar remoto (a ilha toda basicamente fica longe de tudo), mas não vai ser aqui que você vai aprender a voar o Caravan.

Inicialmente os co-pilotos vão para as ilhas de Sumatra e Kalimantan ou Java, onde irão voar em aeroportos internacionais, com pistas com mais de 1000 metros e com operação de diversos jatos de grande porte, aqui você segue um programa de treinamento, que inclui tudo que lhe foi ensinado no ground school na prática e mais um pouco, enquanto exerce a sua função de co-piloto, e na Susi não existe operador de flap, cada um faz um setor revezando e existe raros lugares nestas ilhas aonde os co-pilotos não podem pousar.

A grande maioria desses voos serão de passageiros, com alguma exceções próximas ao fim do ano ou esporadicamente um charter, será de carga, e em poucos minutos o Caravan é capaz de mudar entre ambas utilidades.

A empresa basicamente gosta de mandar todos os co-pilotos para todas as bases “flat lands” primeiro, após adquirir essa experiência, o co-piloto pode por escolha própria ir para as “flat lands” da Papua, vale ressaltar que flat lands, apesar de incluir diversos aeroportos internacionais, também inclui regionais e strips, que em nada se parecem com qualquer coisa que você já viu na vida, só é bem menos desafiador que o terreno único da Papua.

O treinamento.

Tudo deu certo, você estudou bastante, passou na entrevista, e como foi no meu caso 4 dias após a entrevista recebeu uma resposta positiva com uma data para o início do treinamento. Agora você tem duas semanas para mudar sua vida. (pode ser mais, ou menos, este foi meu caso).

Bom como recomendado no último post, você deveria ir para a entrevista já com sua vida na mala, isso mesmo, você vai viver de uma mala por pelo menos um ano (assunto para um próximo post). O importante agora é que você está indo para a base de treinamento da empresa, Pangandaran na Ilha de Java, o mesmo local da entrevista normalmente, onde você vai passar aproximadamente 40, 50 dias.

A primeira semana é um choque, vão jogar todo o material na sua cabeça e já vão marcar todas a provas para o final da semana, sim é um treinamento de choque e funciona, não tem jeito, você estudou muito pra entrevista, e vai ter que estudar muito agora de novo. É difícil, mas não é impossível, basta estudar. São aproximadamente 3 semanas de ground school, 3 semanas em uma sala de aula, das 8 às 4, mais horas de estudos no quarto ou na sala de estudos. Você vai aprender sobre todos os sistemas do avião, todos mesmo, na real você vai aprender tudo sobre o avião, e eles são realmente bons no que fazem, além de precisar saber o SOP da empresa, o POH do Caravan, as limitações do fabricante e da empresa, o manual da empresa e algumas regras de segurança para a Indonésia e sua cultura, uma introdução ao país e a meteorologia assim como ao terreno, alguns estudos de caso, uma introdução à documentação que será preenchida no dia a dia e algumas “provinhas”.

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Depois disso você vai pra capital, faz alguma provas de Air law da Indonésia, não se preocupe o material será fornecido pela empresa, e essa parte é fácil, o difícil vem depois, você volta para a base de treinamento e começa o simulador, são aproximadamente 5 seções, e o avanço de uma para a outra é gigantesco, assim como a cobrança, por isso devem ser intercaladas por muito estudo e treinamento no mock up, dias de “folga” serão fornecidos para isso. Aqui sim tem muito IFR, pane, emergência, e todas aquela outras maravilhas de um simulador além do fato de você estar apenas aprendendo sobre o avião ao mesmo tempo que está treinando emergências, resumindo, uma delicia!

 Aí vem uma questão de tempo e disponibilidade de um Caravan para o treinamento no avião, normalmente 3 voos de 20 a 40 min cada, é bem básico, e como disse meu instrutor é só para os co-pilotos não assustarem os passageiros na primeira semana. Começa do básico, como abrir e fechar as portas a inspeção externa, vai para o voo alto, manobras, 3 pousos, várias posições de flape, mais pousos, uma Mini naveguinha e deu, se tudo for der certo você segue o line training !

Fui chamado e agora?

Bom, agora vem a tomada de decisão, a parte difícil.

Primeiro: eu ainda trabalho na empresa, e por mais que eu queira ajudar outros brasileiros como eu a chegar aqui e viver esta oportunidade, infelizmente a empresa nos pede para manter sigilo sobre o material específico cobrado e as perguntas mais frequentes, então minha ajuda vai ser um tanto quanto superficial nesta área, mas não menos importante, com certeza você achará algo que lhe ajudará.

A empresa vai lhe convidar para a entrevista, como dito no post anterior, você escolheu a data, eles responderam confirmando e junto lhe mandarão parte do material que será cobrado, não se preocupe você não precisa nem pesquisar na internet se não quiser, é basicamente o POH do Caravan operado pela empresa, e para isso como já dito eles lhe darão aproximadamente 30 dias para estudar.

(#dica) Há um site específico na internet que trata somente da entrevista, você tem que investir um valor baixo, nele consta diversas perguntas frequentes, material, e muitas dicas, mas eu não sei o nome do site 🙈🙊🙉 (tio Google responde rápido).

Mas agora você está se perguntando se o investimento vale a pena, e não estou falando só do site para a entrevista, pois você acabou de descobrir que a entrevista vai ser na Indonésia, e que a empresa não vai te ajudar a chegar na Indonésia! Isso mesmo, e para você como eu que mora(morava) no Brasil, isto representa em torno de 1300 a 1500 dólares, ida e volta. Não vou entrar no mérito da empresa fazer isso, ela é simplesmente uma operadora de médio porte de Caravans basicamente, que recebe currículos do mundo todo, o que não falta é piloto disposto a pagar a passagem e tentar essa oportunidade dos sonhos para muitos, inclusive muitos que moram aqui do lado, Austrália e Nova Zelândia, custando muitos menos do que para um Brasileiro tentar a “sorte”.

(#dica2) Compre somente uma passagem de ida, faça a entrevista e vá para Bali, fique em um hostel e aproveite que você acabou de chagar do outro lado do mundo a vá conhecer! Mesmo que a empresa leve 30 dias para lhe responder, a alimentação e a estada neste país é tão barata que você vai gastar menos do que voltar para o Brasil, e voltar para a Indonésia de novo para vir trabalhar caso a resposta seja sim, caso seja não, pelo menos você não veio até o outro lado do mundo e ficou somente 5 dias e não conheceu nada, pelo menos você tem uma história para contar e uniu o útil ao agradável. No meu caso a resposta só levou 4 dias e o curso começou em 15 depois do aviso, mas isto muda de turma para turma. Pode ser mais, pode ser menos, mas o que vale é a experiência.

Não tenho como negar, que eu fiquei olhando para o e-mail da empresa por 3 dias antes de tomar uma decisão, mandar o e-mail é fácil, comprar a passagem é difícil! O que me ajudou na tomada de decisão foi que eu realmente queria sair do Brasil, eu realmente queria essa oportunidade, e eu poucos meses antes estava disposto a ir para a Namíbia e Botswana na África, tentar minha sorte de verdade, pois lá ninguém responde e-mail, você tem que ir bater na porta! (Logo tem post sobre essa oportunidade também).

Então foi isso, eu raspei minha conta bancária, eu usei todo o dinheiro que eu tinha e o que eu não tinha, eu fui all in, coloquei tudo na mesa por uma entrevista de emprego e fiquei 30 dias sem sair de casa. 30 dias internado nos livros meu amigo, porque não tinha segunda chance.

A empresa chama em média 4, e um é aprovado, mas como toda regra tem uma exceção, na semana da minha entrevista eles chamaram 6 e 3 foram aprovados, 50%! Meu all in foi no momento certo, mas não foi só de dinheiro que foi esse all in, foram 30 dias de aulas de inglês no Brasil antes da entrevista oral, mesmo eu possuindo nível 5 e tendo voltado da Inglaterra há um ano. Uma semana de simulador IFR G100O, primeiro que eu nunca havia voado G1000, que compõem a maioria da frota da empresa, segundo que havia dois anos que eu só revalidava meu IFR e não voava nada além de VFR. Nada disso é requerido para a entrevista, mas meu amigo eu estava all in de verdade, a carta tinha que bater, as fichas tinham que voltar, era o momento certo no lugar certo, eu senti e fiz a aposta, e não ia poupar esforços para tudo dar certo! A carta bateu!